O mal do século já chegou nas universidades, 15% dos estudantes são acometidos pela depressão
A depressão já é considerada o mal do século segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil ela atinge 10.4% da população e ela não escolhe faixa etárea, tampouco classe social ou sexo. Os estudantes universitários não são imunes ao mal, o desempenho acadêmico cai lá embaixo e a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aponta que 15% deles foram afetados pela depressão.
Na Universidade de Passo Fundo existe o Setor de Apoios ao Estudante (SAES) que oferece tratamento gratuito para os alunos da instituição. As psicólogas Itamara Danelli e Regina Ampese contam um pouco na entrevista abaixo como é a situação da instituição e dos alunos que são acometidos pela doença.

“A saída de casa gera no aluno uma mistura de sentimentos, dentre eles medo, insegurança, ansiedade. Isso contribuiu para uma instabilidade”
P: O SAES oferece quais tipos de atendimento psicológico? Como funciona esse apoio?
R: O setor oferece atendimento psicológico individual, orientação profissional e atendimento de família, porém neste semestre, o atendimento de família não está sendo realizado. Para ambos serviços, os acadêmicos solicitam diretamente no setor, ou encaminhados via professores ou coordenação.
P: Por mês quantos alunos são atendidos? Quais são as patologias mais comuns entre eles?
R:No semestre de 2019/1 foram realizados 839 atendimentos, sendo que a média mensal varia, e por tanto não temos um dado específico. Dentre as patologias é possível destacar: Ansiedade, conflitos familiares, ideação suicida, bullying, violências, luto, reopção de curso.
P: Segundo pesquisas da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) cerca de 63,6% de estudantes universitários sofreu/sofre de ansiedade. Quando esses alunos buscam por apoio psicológico qual é o estado mental em que eles se encontram?
R: Os alunos chegam com crises de ansiedade ou ataques de pânico, evidenciando uma ansiedade recorrente por inúmeros motivos vinculados às situações já mencionadas na questão 2.
P: A UPF possui apoio psicológico para os seus estudantes, mas as demais universidades estariam preparadas para lidar com essa geração?
R: Sugiro que faça uma pesquisa com as demais Instituições de Ensino Superior. Com relação a UPF, observamos que o apoio psicológico é determinante para a permanência e conclusão do curso, pois sem esse apoio, alguns alunos não conseguiriam.
P: A taxa de suicídios, ideias de morte e tentativas de suicídio, estão cada vez maiores entre os universitários. Por quê?
R:As pressões sociais, o contexto cultural e familiar, dentre outros aspectos podem contribuir para que os universitários sintam-se cada vez mais cobrados, gerando muitas vezes ansiedade e sentimentos de impotência. Diante dessa situação, os mesmo se sentem frustrados, o que pode vir a incapacitá-los para resolver questões cotidianas. O acúmulo dessas questões pode levar a tristeza, baixa auto estima, angústia e ideação suicida, como uma forma de tentativa de resolução.
P: O fato de muitos estudantes virem de fora da cidade para estudar, muitas vezes ainda no fim da adolescência, contribui para essa instabilidade emocional?
R: Sim. A saída de casa gera no aluno uma mistura de sentimentos, dentre eles medo, insegurança, ansiedade. Isso contribuiu para uma instabilidade emocional, tendo em vista que o acadêmico vai adentrar em questões da vida adulta que até então poderia ser resolvida pelos pais, mas que agora serão de sua responsabilidade.
P: Os professores e colegas são capazes de perceber essa mudança e ver quando a pessoa está em risco? Elas devem recorrer à quem nesses casos?
R: Sim, as pessoas que são do convívio do aluno podem perceber essas mudanças comportamentais e procurar a ajuda de profissional especializado, como por exemplo, o psicólogo. Na Universidade de Passo Fundo os alunos, professores e funcionários, podem encaminhar o indivíduo que apresentar essas questões para o Setor de Atenção ao Estudante – SAES
P: Há muitos relatos onde os alunos começavam a apresentar fragilidade em sua saúde mental ainda nos cursinhos preparatórios e até no ensino médio, pela pressão exercida do vestibular, eles acabavam desenvolvendo alguns dos quadros já citados. Se esses problemas tivessem sido tratados e recebido o apoio correto, eles voltariam a desenvolvê-los durante o curso?
R: Esta é uma pergunta de difícil resposta, considerando que o indivíduo é mutável e ao longo de sua trajetória de vida, inúmeras situações podem ocorrer e suscitar questões que, aparentemente, já estavam resolvidas.
Amanda Veseloski