Minutos antes do início do palco de debates, o público que chegava à lona principal era recepcionado pelo “Povo de Rua”, que fazia sua apresentação bem no meio do circo da cultura. Mas o espetáculo estava apenas começando. Os convidados da tarde dessa quinta-feira, Eliane Brum, Edney Silvestre e Nick Monfort teceriam constatações acerca do tema “Diálogo, Mídias e Convergências”.
Uma das mediadoras do debate, Luciana Savaget subiu ao palco à espera de seus outros dois companheiros de debate: Alcione Araújo e Ignácio de Loyola Brandão. Eles, no entanto, permaneceram sentados e, como de costume, não perderam a chance de entrar em cena com alguma brincadeira. A condição para a subida da dupla até o palco principal foi a de que o público os chamasse de “lindos”. E lá se foram eles, saltitantes e de mãos dadas, para introduzir mais uma tarde de discussões na 14ª Jornada Nacional de Literatura. A fala dos mediadores carregou um relato pessoal, acrescido de uma dosagem extra de bom humor.
Antes do início do debate, Alcione Araújo falou um pouco sobre a relação entre o impresso e as novas mídias. “O que há de novo é o surgimento da comunicação através da internet, e com ela a autonomia através de blogs pessoais, em que o usuário pode se manifestar livremente sobre o que quer que seja, usar o código gráfico para expressar ideias e entregá-las a domicílio em qualquer lugar, gratuitamente”. Araújo ainda argumentou que a internet possibilita múltiplas interpretações e é um grande acréscimo do ponto de vista da comunicação e da distribuição de informações. Para ele, no entanto a pulverização das ideias não dá noção de onde está a verdade, o certo. “A poesia já virou música, a música já virou teatro, o teatro virou literatura. O texto, pela sua singeleza, pode acumular a experiência de diversas pessoas, de diversas origens”, encerrou.
O jornalista Edney Silvestre preferiu um trecho do livro Reparação de Ian Mcewan para expressar seu sentimento ao estar presente na Jornada. Sua breve fala contrastou com a enxurrada de perguntas que sucederam o palco de debates, a maioria delas motivadas pela maneira como ele encerrou suas proposições: “Tenho um mapa de duas décadas atrás e falta um pedaço. Sei onde quero chegar, mas não sei quais são os caminhos, as ruas não estão indicadas e os itinerários dos ônibus, agora, são ocultos”.
A próxima convidada, Eliane Brum preferiu o auxílio de algumas páginas escritas, pois, segundo ela, “penso melhor escrevendo”. Durante um texto que retratava as mudanças na comunicação – especialmente no jornalismo – promovidas pelo uso de novas mídias, a escritora falou sobre a remodelação do jornalismo. “O papel dos repórteres não é mais dar voz a quem não tem voz. Hoje, na plataforma digital, eu ligo minhas narrativas a outras narrativas. Os olhares sobre o mesmo tema se multiplicam. O leitor também é autor ao continuar a escrever o texto que eu comecei”. Brum destacou que nós somos aquilo que contamos e aquilo que os outros contam de nós, mas que, cada vez mais, a influência que a versão da imprensa exerce sobre nossas vidas é maior. Para ela, a globalização é um mundo novo e extraordinário e, como tudo que é novo, há uma multidão de pontos de interrogação. O encerramento de sua fala fez observações sobre as exigências da comunicação: “Para ser escutado é preciso ter o que dizer. Isso é muito importante. Não basta ter voz, é preciso ter o que dizer. E para ter o que dizer, é preciso construir conhecimento. Para construir conhecimento, é preciso arriscar uma experiência. Para contar uma vida, é preciso antes inventar uma vida”, concluiu.
Já o americano Nick Montfort preferiu falar sobre a criação de livros colaborativos. Com o auxílio da intérprete, o professor explicou que, na era digital, nós temos a habilidade especial de escrever juntos e exemplificou seu conceito através do livro “The Third Mind”. Para Montfort, quando dois colaboradores se unem para escrever um livro, eles pensam com a terceira mente e, particularmente, ele está desenvolvendo essa técnica de produção escrita. “Com colaboradores, fica mais fácil revisar o texto e descartar o que é necessário”, explica o professor.
O palco de debates encerrou a tarde com a tradicional rodada de perguntas entre público e os convidados. A próxima – e última – edição acontece amanhã, a partir das 14 horas, na lona principal. O tema em debate será “Formação do leitor contemporâneo”, e a mesa estará composta por Affonso Romano de Sant’Anna, Alberto Manguel, Beatriz Sarlo e Kate Wilson.
Se você perdeu os debates de hoje, pode conferir alguns trechos da fala de Edney Silvestre e Eliane Brum nos vídeos abaixo:
Vídeos: Fabiana Beltrami
httpv://www.youtube.com/watch?v=w0hEryx53Gs
httpv://www.youtube.com/watch?v=m6AoiYLbVzA
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