
Loyola: “Eu não entendo a vida, por isso que escrevo. E vou continuar escrevendo, porque nunca vou entender.”
Não havia sequer emissoras de televisão na coletiva final da segunda edição da Jornada de Literatura em 1985. Se tanto, três jornalistas conversando com Tania Rösing para uma avaliação da Jornada. Mesmo assim, o paulista Ignácio de Loyola Brandão, que pela primeira vez acompanhava a manifestação literária, fez uma promessa à nova amiga, coordenadora das jornadas: “Vou usar isso em todas as entrevistas que eu der nas próximas semanas, e vou falar da jornada”. “Isso”, em questão, era um moletom que havia sido concebido naquele ano, ideia interna dos envolvidos, com os escritos LITERATURA NO PEITO. E Loyola cumpriu a promessa: falou da Jornada no programa de Jô Soares e no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Da promessa cumprida até 2013, foram outras 13 edições de Jornada, e a importância de Loyola para o sucesso não é desprezado por ninguém. Muito menos por Tania Rösing, que credita o crescimento e o reconhecimento, em boa parte, graças à parceria, ideias e a colaboração do consagrado escritor. Loyola acompanha Rösing, também, quando lembra da pouca repercussão das primeiras edições, do cerco da mídia nos tempos atuais e de certos absurdos envolvendo as verbas destinadas à cultura no Brasil.
– Hoje me sinto no festival de Cannes, de Gramado. Minha primeira grande surpresa nesse ano foi o novo portal. Tania sonha um novo portal em alvenaria, e está lutando por isso. Mas veja só: o governo liberou que um filho de um estilista de São Paulo possa levantar 2 milhões de reais para fazer desfiles em Paris. Para a cultura, para a jornada, NADA. É JorNADA mesmo, bem explícito. – alfineta, com um humor peculiar que já é marcante.
É o humor, aliás, que torna Ignácio um dos grandes sucessos da Jornada, a cada edição. Um humor que mescla ironia, sarcasmo, tiradas geniais e uma simpatia que encanta o público e se torna o grande fio condutor dos debates. Apesar do humor, não deixa de lado a oportunidade de fazer críticas a quem ainda não entendeu a grandeza da Jornada. Criticou – sem citar nomes – autores que se comprometem com meses de antecedência e, na última hora, “dão para trás”. Rasga de elogios o caráter formador de leitores e de opinião da Jornada e sua capacidade de dialogar com a realidade contemporânea. “O tema da Jornada foi pensado um ano atrás, em cima da juventude. E o que a juventude fez esse ano? Foi às ruas. A Jornada tem antecipado temas.”
A ligação com a Jornada e com as milhares de pessoas que prestigiam e participam da jornada criou um vínculo de Loyola com Passo Fundo que foi premiado, em 2013: Loyola é, oficialmente, detentor do mais recente título de Cidadão Passo-Fundense. “Sou cidadão passo-fundense e já comprei o livro do Fischer para aprender a falar em gaúcho. Só preciso aprender o tom do “bah”, que eu ainda não peguei bem” explica, bem humorado.
O papo com Loyola, após a coletiva final de Tania Rösing no último dia da jornada, é um contagiante tempo passado ao lado de tiradas espontâneas e lembranças dos anos de parceria com a Jornada, “um vício sério”, segundo ele. “A abstinência de dois anos é complicada pra mim.” Complicada, a partir de agora, também é a ausência de Alcione Araújo, parceiro de anos no palco e nos dias de Passo Fundo. “A ausência do Alcione Araújo foi complicada. Ele levantava elétrico, já pensando no que fazer no palco, em relação à brincadeiras, a algo divertido, para o público. Não era só um coordenador, era um mediador, um mestre na arte de enrolar.” diz, emocionado, após relembrar o balão que subiu ao palco durante um debate e posicionou-se ao seu lado, um episódio que o marcou na edição de 2013.”Era a alma do Alcione conosco ali, no palco.”
Loyola partiu, no sábado, para um novo período de abstinência até 2015, quando os palcos e corredores da Jornada receberão mais uma vez o autor das bem humoradas frases que ajudam a embalar a Jornada a cada edição. Um pequeno punhado dessas frases, ditas em pouco mais de meia hora, exemplificam o que é sentar em frente a esse senhor que se diz um “mero” cronista desses anos de convívio entre as letras e o público.
Loyola em apenas trinta minutos
“A gente faz porque gosta, do que faz, da literatura, da jornada, e ama e odeia a Tânia”
Entre risos, sobre o prazer de vir à Jornada“Guto Lins criou a transmidia do livro.”
“É uma nova categoria de parlamentares no Brasil.”
Sobre a manutenção do mandato do deputado Natan Donadon, condenado a 13 anos e 4 meses de prisão“Aqui (em Passo Fundo) a gente compra um livro e a moça diz “vinte mais sessenta”. A partir de hoje passo a dizer minha idade como “cinquenta mais vinte”
“Essa é uma jornada de formação, mas que está sempre em formação.”
“Eu não entendo a vida, por isso que escrevo. E vou continuar escrevendo, porque nunca vou entender.”
“Vocês jamais saberão o que tem dentro daquela xícara.”
Sobre a xícara que mantém ao seu lado durante a mediação no Palco de Debates
Assista um trecho da coletiva de Ignácio no vídeo:
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