por Rafaela Pszybyovicz*
Na noite de abertura da Jornada Nacional de Literatura, o Especialista em cibercultura, Pierre Lévy, explicou ao público sobre uma nova linguagem para a Internet, a Information Economy Meta Language (IEML). Em coletiva com a imprensa Pierre disse que se impressionou com a energia das pessoas e a paixão pela literatura, além de ter se surpreendido com a paciência do público ao assistir sua palestra que, segundo ele, era de teor muito complexo. Acompanhe agora os principais aspectos sobre os quais o pensador falou na tarde de terça-feira:
Esta nova língua será apenas para a escrita?
Sim, é um sistema de notas científicas, como por exemplo, um sistema de notas científicas para química, mas ao invés de descrever moléculas ela descreve conceitos. Ela não serve para ser falada pelas pessoas. Minha esperança é que as pessoas possam usar este código escrevendo e lendo.
Quanto tempo levará até que esta língua esteja formatada e utilizada na sociedade?
Eu diria uma geração, mas eu espero que em menos de dez anos nós já vejamos as primeiras aplicações, antes de eu morrer (risos)
Você acha que no futuro as pessoas poderão escrever dissertações ou reflexões complexas nesta língua?
É uma língua que permite que você escreva orações complexas, coordenadas e subordinadas e também é possível criar textos inteiros. É criada inerentemente para ser hipertextual, isso quer dizer que um texto pode se referir a outro e assim por diante. Tudo funciona com uma estrutura em rede.
Como esta língua será desenvolvida?
Como em qualquer língua, há dois aspectos. Há a gramática e há um dicionário. Se você fornecer ao computador a gramática e o dicionário da Língua Portuguesa, por exemplo, não será o suficiente para o computador entender um texto literário em português. Na minha língua, assim que você tiver a gramática e o dicionário você tem tudo, é por isso que o significado pode ser computado automaticamente. É como qualquer outra língua, pois há uma gramática que é muito regular e completamente fixa. O dicionário crescerá de forma colaborativa através do trabalho colaborativo das pessoas envolvidas nesta iniciativa. Mas a ideia é manter o número de palavras bem pequeno e que todo o significado seja constituído pela combinação entre estas palavras, pois se você criar uma nova palavra para cada novo significado não é possível computar o significado porque o que está em risco é a possibilidade de decompor e reorganizar redes de pequenos elementos.
Então será parecido com a Língua Alemã onde nós podemos agregar palavras para que elas adquiram o novo significado?
Não exatamente. Toda vez que você tiver uma relação entre duas palavras, por exemplo, um verbo e um sujeito, você cria um tipo de link entre as duas e você tem um tag neste link que descreve exatamente a relação gramática entre as duas palavras. Quando você escreve nesta língua, na verdade, o que você está fazendo é exatamente descrevendo uma rede. Então, escrever nesta língua é criar redes de palavras com relações muito precisas entre elas.
Então funcionará como um software, dentro da Internet?
Claro! Será necessário um tipo de motor semântico para transformar todas as expressões desta língua em uma rede computável. Então, é claro, haverá um software (livre, é claro).
Você está trabalhando em colaboração com profissionais de outras áreas?
Sim, eu trabalho com um grupo bem pequeno, mas é uma equipe internacional, onde há um matemático e cientistas da computação. No processo da construção da língua, que levou mais de dez anos, eu sempre verifiquei com os matemáticos se era teoricamente computável e com os cientistas da computação se era programável na prática, pois esta era a minha preocupação principal. Portanto eu sei que é possível, é comprovado matematicamente, é por isto que eu estou tão confiante.
Desde a última vez que você esteve aqui, nós experimentamos novas formas de intervir usando o Twitter. Como isto se aplica às suas pesquisas?
Eu acredito que nós estamos passando lenta, mas certamente, por um declínio da tradicional e estática mídia de “mão-única” e este é o uso inteligente da mídia social, que continuará crescendo. No futuro as pessoas irão produzir, consumir e trocar informações através deste novo ambiente de comunicação. Eu acredito ser muito importante do ponto de vista intelectual e pedagógico que nós ensinemos às gerações mais jovens um modo de priorizar os interesses e preocupações deles. Nós também devemos ensiná-los a filtrar e discriminar entre as fontes e a forma de sintetizar todas as informações que eles recebem. Em geral eu acredito que nós devemos desenvolver uma nova disciplina que eu chamo de gerenciamento pessoal de conhecimento neste novo ambiente de mídia social. Isto será muito importante para a apropriação da informação e para a transformação de informação em conhecimento.
* é aluna do curso de Jornalismo da UPF e colaboradora do Nexjor na Jornada.
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