O auditório do Centro de Educação em Tecnologia da Universidade de Passo Fundo recebeu a segunda tarde do Seminário Literatura Gaúcha nesta quarta-feira (04/10), como parte integrante da 16ª Jornada Nacional de Literatura. Os autores convidados falaram sobre poesia gaúcha contemporânea e quem mediou a palestra foi Guto Leite, poeta, professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de cinco livros. Cada um dos convidados teve 15 minutos para fazer sua fala.
O primeiro convidado da tarde foi Ronald Augusto, poeta, crítico literário e músico, autor de 11 livros. Durante sua fala, comentou que o “o debate está cada vez mais raro e rarefeito, principalmente com o avanço das redes sociais”, e com isso, a crítica literária está cada vez menos ousada e errante. Ele também disse que é difícil chegar a um consenso entre autores, pois o problema da academia é reconhecer autores menores e seguir enaltecendo autores já consagrados pela crítica, como Drummond e Manuel Bandeira. “A academia sempre foi um espaço de abrir espaços e abrir veredas. […] Os pesquisadores tem medo de afirmar poetas menores”. Segundo ele, é preciso de uma crítica que esteja focada na produção que acontece no momento, mesmo que isso corra o risco de algum juízo de valor errôneo.
Eu sou um poeta, por mais que eu adore fazer crítica.
Ao final de sua fala, leu dois de seus poemas, o primeiro deles dedicado a Gregório de Matos que está em sua obra “Cair de Costas”, de 2012 (Editora Éblis) e o segundo poema dedicado à sua esposa, Denise, com quem teve um filho recentemente. Ele fala que o poema dedicado à sua mulher é uma letra dedicada a qualquer história de amor.

Ronald Augusto. Foto: Érica Soares / Nexjor
Lilian Rocha, segunda convidada da mesa, é poeta, escritora e musicista. Autora do livro “Negra Sou”, ela começou a sua fala recitando seu poema “Canta Negro”, presente no livro. Durante a palestra, a autora falou que é importante tratar da voz e da oralidade, aspectos necessários para algumas comunidades e para as questões de resistência. Ela e o autor Ronald Augusto são ativos no movimento literário negro gaúcho. Quanto aos números, Lilian falou que cerca de 94% dos autores são brancos e outros 74% são homens. “A grande maioria das mulheres não consegue chegar a uma publicação. Somente 17% dos livros mais famosos no Brasil são escritos por mulheres e a dificuldade fica maior para mulheres negras”, disse. A poetisa começou sua alfabetização muito cedo e, desde então, escreve contos. Ela contou que a poesia apareceu em sua vida um pouco mais tarde, mas teve seu primeiro livro publicado somente em 2013.
A necessidade é que as pessoas percebam a via artística dentro de si.

Lilian Rocha. Foto: Érica Soares / Nexjor
O terceiro convidado foi José Eduardo Degrazia, médico oftalmologista, poeta e tradutor. Ele iniciou sua fala indagando que “quem não perde tempo não vai a lugar nenhum”. Degrazia diz que sua formação literária iniciou em sua adolescência, mas a sua formação científica iniciou na faculdade de Medicina. “O tempo é na verdade uma medida feita por alguém, ele não é real, ele existe na mente, na razão e no espírito. A poesia é a mesma coisa”, disse. Ele encerrou sua fala com uma reflexão sobre a poesia, que deve procurar uma abertura entre mundos tão diversos e dissemelhantes, mas que se penetram de alguma forma.
Como escritores, devemos fazer o melhor possível, tanto em forma quanto em conteúdo.

José Eduardo Degrazia. Foto: Nexjor
Quem encerrou o debate e abriu espaços para perguntas foi o poeta, músico e professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guto Leite, que afirmou ser muito difícil ser crítico hoje, pelas posições pessoais e também pelas interpessoais. “A mercadoria tem horror a versão. […] Toda vez que eu insiro versões no mercado da literatura, eu corro o risco de ser expelido por ela”, comentou. Em seu texto, ele provocou explicações sobre a década de 1990 no Brasil e no Rio Grande do Sul. “Houve uma alta cultural literária e baixa econômica, principalmente no Estado”.
A mercadoria tem horror a versão. […] Toda vez que eu insiro versões no mercado da literatura, eu corro o risco de ser expelido por ela.

Guto Leite, mediador do debate. Foto: Érica Soares / Nexjor
Em seguida, o debate foi encerrado com as perguntas do público aos autores. A programação do Seminário Literatura Gaúcha segue nesta quinta-feira (05), com o Seminário sobre Literatura Infantil e Juvenil, no auditório do CET, a partir das 14h. Toda a programação da 16ª Jornada Nacional de Literatura está disponível no site oficial.
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