Pedro Duarte é jornalista e editor-chefe do portal Jovem Nerd, é também um dos escritores convidados para participar da 8ª Jornadinha Nacional de Literatura. Despojado e atencioso Duarte fala sobre seu livro “Tony Moon: Está tudo fora de controle, cara” com a equipe do Nexjor, confira a entrevista:
Nexjor: O que tem de Pedro em Tony Moon?
Pedro Duarte: No Tony é a necessidade, a vontade de ser organizado. Ele é todo metódico, gosta de cumprir horários e eu acreditava, em certo momento da minha vida, que se eu fizesse tudo como fosse certo, se existisse um certo, eu teria tempo para as outras coisas e aquela sensação de dever cumprido sempre. Mas foi um aprendizado, enquanto eu escrevia, que as coisas podem sair de controle. No livro a brincadeira é essa. Não é tão ruim quando as coisas saem de controle. Os demais personagens tem coisas de mim também. A Manu que é mais briguenta, tem meu lado mais briguento, a Ana que é mais romântica eu sou romântico também, e o Cabelo que não liga muito para as coisas, ele é um cara mais descolado, aparenta não aprender, mas ele só não se encaixa na escola, que é um momento que eu tive também, na adolescência. Acho que todo mundo tem um pedaço, e todos juntos formam uma pessoa que sou eu.
Nexjor: Você acredita que o Tony conseguiria viver na sociedade atual?
Pedro Duarte: Sim, já tem um pouco de realidade deste momento. A questão é que eu fiz um universo que não depende tanto da tecnologia e o universo que ele (Tony) vive é mais seguro. A cidade Aroldo Barco, é um ideal, ele pode ir para a escola de bicicleta que não tem problema, eu acho que esse mundo existe em algum lugar. Vivemos em um país que é complicado e tudo, mas eu acho que ele existe e ele (o Tonny) se encaixaria em qualquer lugar sim, em um lugar que eu gostaria de ter crescido, um lugar seguro que você possa brincar na rua, que você possa ter amigo fora das redes sociais, na realidade e dentro das redes sociais ao mesmo tempo, é um mundo que na minha opinião seria ideal ele se encaixaria com certeza.
Nexjor: Tony Moon foi um projeto independente. Como surge a coragem de pô-lo em prática?
Pedro Duarte: Eu tinha um site “Bacanudo” e lá eu fiz uma rede de fãs, que escutavam meus programas, meus podcasts e o que eu escrevia também. Então eu fiz um livro independente com financiamento coletivo, meus fãs fizeram uma vaquinha online que se chama crowdfounding, então lançamos a primeiro livro “Está tudo fora de controle, cara!”, e deu muito certo, então eu fiz outro com custos meus, “A vida acontece” que é um livro de tirinha que ainda não está distribuído, mas que já existe. Então o livro chegou à editora Leia, este livro eu segui as dicas da Editora. Quando eu fiz independente eu fiz com 42 ilustrações foi preciso ser refeita a diagramação, ou então você faz como dá. O livro (Tony Moon) tinha 150 páginas, a letra era pequena, agora ela é maior, agora quando a pessoa vai gritar sai um “AAAH” enorme, você pode brincar com páginas quando é noite fica a página escura e a letra branca, quando ele (Tony) está meio paranoico tem uma hora que é preciso girar o livro, como se você estivesse preso nisto, e isto só é possível com editora. Então o jeito que eu fiz para chamar a atenção de uma editora, eu acreditava nele e eu fiz.
Nexjor: Que experiência você tira do seu livro?
Pedro Duarte: Ele continua me ensinando muito sobre o mercado, sobre a realidade de ser escritor, brasileiro. Num momento de preparação que foi quando a editora pegou o livro comigo, eu aprendi muito com as pessoas, editorialmente falando. Me tornei um escritor melhor. Escrevi o Tony Moon há 5 anos, hoje eu sou editor chefe de um site e escrevo muito melhor, até por ter passado por este processo de ter dado o primeiro passo com ele. Com o segundo livro estou mais seguro e sinto que eu consigo assimilar cada momento positiva ou negativamente, perto de quem pode me ensinar alguma coisa.
Nexjor: Qual a maior dificuldade de escrever para crianças?
Pedro Duarte: Estou fazendo outro livro adulto é um projeto independente novamente é um mercado que eu estudei bastante. O Tony eu não havia pensado para crianças eu nunca pensei “isto funciona para tal idade” é só uma história boa, como se fosse uma história da Pixel, que o pai assiste, o filho assiste e cada um entende uma maneira, porque pegamos as referências da nossa idade e a criança entende a história de outra maneira. O Tony Moon é essa mistura das coisas que eu gosto, não foi uma coisa pensada, foi uma coisa que aconteceu. Eu com 30 ou qualquer pessoa com 40 ou 20, um jovem ou adulto, qualquer um que lê pode gostar e compreender.
Eu não subestimo as crianças, não acho que deve ser explicado, eu acredito que elas aprendem as coisas de uma maneira que a gente nem imagina. Pensamos que temos que criar uma metodologia específica ou uma linguagem diferente, não digo que não funcione, mas temos que fazer coisas que ele aprenda e que ele busque pesquisar também. Muitas vezes ele aprende no contexto, no exemplo, eu não tenho esse negócio de usar uma palavra mais fácil por ser criança, se eu acho que aquela palavra é aquela palavra eu vou usar ela. Nunca pensei vou trocar isto por aquilo porque fica mais fácil de entender. Quando eu era criança eu gostava de ser desafiado e eu acredito que alguém tem que “empurrar” também.
More from 16ª Jornada Nacional de Literatura
Os monstros de Mário Corso
O autor fez parte da mesa “Monstros e outros medos colecionáveis”, na última noite da Jornada Nacional de Literatura Mário Corso …