
Coordenadora das jornadas salientou acerto na escolha do tema e enfatizou caráter formador da Jornada: “Não adianta dominarmos a tecnologia sem termos conteúdos qualificados.”
Um misto de agradecimento, exaltação à cultura, louvor às crianças e pequenas críticas direcionadas marcaram a coletiva de imprensa da coordenadora geral das Jornadas Literárias, Prof. Drª Tania Rösing, na manhã do sábado, último dia da 15ª Jornada Nacional de Literatura. Quem acompanha as Jornadas há algum tempo – e principalmente quem acompanha de perto o trabalho da comissão organizadora coordenada por Rösing – sabe que certos discursos são usuais no momento do encerramento. Mas é justamente pela repetição de determinados temas que eles acabam se tornando ainda mais relevantes.
Dois temas abordados no discurso de abertura da 15ª Jornada, na terça à noite, voltaram à pauta na conversa com a imprensa do sábado pela manhã. O primeiro deles foi o agradecimento direcionado a público, colaboradores, patrocinadores, editoras e imprensa. A costumeira dificuldade na obtenção de recursos permeou a organização em 2013, e também foi abordada na coletiva do representante do Ministério da Cultura, José Castilho Marques Neto. Se em 2011, por exemplo, foram solicitados à Lei de Incentivo à Cultura quase R$ 700 mil, em 2015 esse valor subiu para pouco mais de R$ 1 milhão. As dificuldades não foram menores. “Precisamos batalhar, e batalhar muito para conseguirmos os recursos. Um patrocínio não é apenas um dinheiro colocado em um evento, é uma forma de contribuir para o aprimoramento das pessoas, de sua sensibilidade.” explicou Rösing, propondo também o desafio de trazer para junto do projeto da Jornada aqueles patrocinadores que não investiram em 2013. A palavra concorrência também foi muito evocada – concorrência de outros eventos e de outros interesses, como a Copa do Mundo em 2014, recuperando o segundo tema abordado na abertura, o de cotejar cultura e futebol.
Participantes
28 mil inscritos
Jornada: 5.000
Jornadinha: 18.000
Jornada UPF: 3.600
Jornight: 2.000
Pertencemos a esse Brasil que entrega seu dinheiro, pelos impostos, pelas taxas que vão para centro do país. Esse dinheiro é nosso, precisa retornar para todos na mesma proporção. Tivemos concorrências muito complicadas. Um evento como a jornada já deveria estar, como está no orçamento do município, no orçamento do estado e da união, junto com outros eventos importantes – cobrou, antes de enfatizar, também, a concorrência da Bienal Internacional do Livro, que acontece nessa semana no Rio de Janeiro e tirou da Jornada a presença de determinados autores.
Apesar disso, Tania Rösing acredita na manutenção do projeto da Jornada, independente de ser realizada no interior do Rio Grande do Sul.
– A palavra centro muda de figura hoje, muda de conceito. Não é mais o centro do país, o Brasil tem mutos centros, a gente deve trabalhar para não perder a nossa identidade. A jornada pode ser feita em qualquer lugar, desde que haja um grupo de pessoas abnegadas trabalhando por isso.
FUTURO PODE TRAZER MUDANÇAS
A nova programação da Jornada, de terça a sábado, foi avaliado positivamente pela coordenadora – a ideia surgiu para beneficiar professores de escolas particulares que não são beneficiados com dispensa para que possam aproveitar o sábado e as noites. A época do ano, no entanto, não deve passar por mudanças. “Fazemos em agosto porque é o limite do período de férias dos convidados internacionais, depois disso eles não poderiam participar.”
A Jornada em números
Convidados: 101 escritoes
Grupos artísticos: 14
Programação Paralela:
– 23 exposições
– 04 sessões de filmes
– 04 espetáculos
– 07 cafés literários
Organização:
– envolvidos na organização e infraestrutura: aprox. 300 pessoas
– Voluntários (jornadetes): aprox. 200
Outro velho tema abordado e muito enfatizado é o do espaço físico. As novas instalações – principalmente do palco principal de debates – foram aprovadas, mas a coordenação da jornada ainda sonha e conclama uma maior movimentação e comprometimento coletivo em torno da construção de um espaço físico. Mas um espaço que seja definitivo e de qualidade. “Se é para fazer que seja bem feito, e que seja estudada. Há seis anos, quando fizemos uma proposta, o projeto custava 15 milhões, mas não houve vontade política para viabilizá-lo.” Hoje, seria necessária uma verba muito maior para viabilizar uma estrutura ideal. Tania foi enfática em afirmar que o local ideal é onde a Jornada funciona hoje, mas que “se não for nesse lugar, será em outro. Isso tem que ficar claro.”
A ausência da famosa lona de circo, que marcou visualmente a jornada ao longo de vários anos, foi minimizada: “Não importa o formato, o que vale é a atmosfera criada, o público, a diferença de ideias e objetivos que nós temos. Tivemos um ambiente agradável, e tivemos mais gente”. Os números oficiais confirmam o otimismo da coordenadora: as 35 mil pessoas que passaram pela Jornada em 2011 se transformaram em 48 mil na edição atual, segundo estimativas da organização. Os inscritos, que foram pouco mais de 20 mil em 2011, se converteram em 28 mil em 2013.
Tania não poupou, no entanto, o descaso das distribuidoras de livros com a Jornada – e qualquer movimentação que aconteça em cidades do interior. Nessa edição da jornada, o grande vencedor do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, “Infâmia”, de Ana Maria Machado, vendeu todos os seus exemplares em apenas um dia. E nem foram muitos na comparação direta com o número de pessoas que passaram pela Jornada: foram 200 exemplares vendidos. Muito pouco para tamanha procura.
– Quando as distribuidoras mandam livros, se é para Passo Fundo, vêm 50 exemplares. Ana Maria vendeu 200 livros porque não havia mais, eles não foram enviados. A mesma fundação que publicou o livro do Loyola , “Solidão no fundo da agulha”, mandou apenas 50 livros para Passo Fundo. Isso também prejudica. Embora não seja nosso foco maior, a venda de livros acontece. Queremos aumentar o espaço para a venda, mas é preciso boa vontade, também, dos livreiros.
JOVENS SÃO O FUTURO, SEMPRE
Nenhum tema, no entanto, trouxe tanta satisfação à Tania Rösing quanto o acerto na escolha do tema e a participação do público alvo das jornadas.
– O grande acerto foi o tema Leituras jovens do mundo. Focar nos jovens é o grande desafio que temos para poder chegar a estratégias mais eficientes para formar leitores.
Para Tania Rösing, as constatações oriundas da avaliação da jornada são importantes para definir ações que possam orientar a atuação direta de indicação de leituras aos professores a familiares das crianças e jovens, para cutucar (palavra enfatizara por ela) as autoridades num investimento a programas de formação de leitores. O público alvo, aqui, seriam os professores, antes de qualquer outro.
– Fazer com que os professores se apropriem, não apenas entrem em contato, com as novas modalidades de leitura. Não adianta dominarmos a tecnologia sem termos conteúdos qualificados. Usarmos as redes sociais não apenas para nossa comunicação, mas também para colocarmos um posicionamento mais crítico e fazermos um grande leitor.
O resultado dessa ação provocou um encerramento otimista
– Não entendo nenhum movimento hoje sem crianças Você olha pra elas e vê a certeza da mudança. Literatura sempre, o que vale é o conteúdo.
Assista ao vídeo com o depoimento:
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