Esse assunto é bastante complexo! Vai acontecer o dia em que todos serão produtores. Então fazemos a pergunta: – A criação ainda vai se fazer necessária?
Em uma conversa descontraída, o jornalista Rinaldo Gama do jornal O Estado de São Paulo nos falou da sua visão do jornalismo cultural no Brasil, das influências sofridas pelas novas tecnologias e também de como a cultura literária é trabalhada nos jornais diários. Acompanhe!
NEXJORNADA – Como está o funcionamento do jornalismo cultural no país?
RINALDO GAMA – Por caso eu montei um curso de jornalismo cultural de pós – graduação na Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo em 2007. É um curso para qualquer área, não apenas no jornalismo. E a procura é assustadora! O intuito dos interessados não é apenas atuar como críticos, mas fazer jornalismo literário, que tem espaço para um estilo mais rebuscado, mais trabalhado, mais aprimorado que muitas vezes o dia-a-dia não permite. É possível você praticar um jornalismo de qualidade, inclusive, estilística no Brasil hoje.
NJ – Como o jornalismo de cultura é trabalhado no jornal diário?
RG – É difícil seguindo esse ritmo do ‘diário’, qualquer jornal que tiver a oportunidade de investir em algo mais reflexivo ele poderá assegurar a sua sobrevivência por ser o único fazendo isso (pelo menos por enquanto). Ao mesmo tempo você pode imaginar que isso é uma espécie de aposta em um leitor que gosta de ler, a questão toda é essa, você não pode fazer jornalismo ou literatura para quem não gosta de ler. Quem não tem a vocação para uma leitura mais demorada, mais aprofundada, vai procurar se informar nos veículos que oferecem mais velocidade. É imaginação querer que o caderno de cultura tenha que ser popular. As pessoas que tem o costume de ler sobre o assunto vão entender o que você quis dizer em determinada frase.
NJ – Qual o papel da internet no jornalismo cultural?
RG – No momento em que a gente vive, as pessoas buscam na internet informações mais rápidas, imediatas. Portanto, apesar de você não ter a limitação do papel (espaço), curiosamente, não existe uma preocupação ou investimento maior com o jornalismo literário. Eu acredito que até agora a internet tem sido procurada pelos usuários como um modo de informação rápida. É online, acabou de acontecer,-“está acontecendo e eu estou acompanhando”. Então o jornalismo literário (cultural) para sobreviver tem que buscar o caminho, que é aprimorar a estilística, o texto e a apresentação, para fazer frente à velocidade, ao jornalismo online, vamos dizer assim.
NJ – Como é trabalhada a questão da publicidade nos cadernos de cultura no centro do país?
RG – Não existe a menor possibilidade de nenhum anunciante, seja ele do tamanho que for, que influencie nas críticas, seja para o bem ou não. Por exemplo: uma estréia de cinema, mesmo sendo uma distribuidora gigantesca. Não haveria a possibilidade de alguém influenciar na crítica, porque faria com que o jornal perdesse a credibilidade. E até mesmo não existe pressão da parte dos anunciantes, porque eles sabem que o jornal não vai ceder, isso claro, em um veículo de expressão.
NJ – Com o surgimento da web 2.0, vieram à tona os blogs, e com eles uma gama de gente com espaço público para expressar suas críticas. Isso chegou a afetar os veículos especializados ou causar algum tipo de pressão?
RG – Esse assunto é bastante complexo. Quando você tem um receptor, aquele que antigamente recebia a literatura, quando você tem a possibilidade de esse mesmo sujeito se transformar também em um produtor, imaginando isso á médio e longo prazo, vai acontecer o dia em que todos serão produtores, então fazemos a pergunta: a criação ainda vai se fazer necessária? Ou na questão da crítica, se todos forem críticos, a crítica ainda é necessária? É um problema que começa a ser discutido a partir dessa possibilidade que a era digital, a web trouxe, de colocar numa mesma pessoa figuras no mesmo processo literário. Antes tínhamos o autor, o editor, o distribuidor, e o crítico. De repente todas essas pessoas viraram uma só. Você não tem mais intermediários e se relaciona diretamente com o leitor. Outra questão a ser discutida é saber se o que eles fazem é literatura, será que o instrumental crítico que temos e herdamos do jornalismo impresso, dá conta dessa nova literatura? Esses são assuntos que estão cada vez mais agravados (no bom sentido) com profusão em função do acesso à web, nos blogs. Mas uma coisa eu tenho certeza! Será impossível para uma pessoa, por melhor que ela seja, ‘consumir’ tudo o que está sendo feito. Alguém tem que escolher para você não ser obrigado a ler tudo, esse é o editor, ele é o veículo de comunicação. Sempre haverá a necessidade de alguém que faça o meio de campo. E o mais importante, a opinião do leitor é delegada ao que os meios de comunicação acham que é importante.
NJ – Você já consegue ver um futuro para o jornalismo cultural no Brasil?
RG – Eu acredito que haverá, apensar da profusão de produtores, gente fazendo filmes, escrevendo textos só na web, gente especializada e com vocação para realizar esse jornalismo cultural.
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