Não são apenas os pés que movem Diana Lichtenstein Corso, os mistérios dos Contos de Fadas também à fazem viver. A psicóloga formada pela UFRGS e Psicanalista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre descobriu na análise de histórias infantis um grande dom: o de entender como a fantasia age em cada um de nós. A mãe de Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis, de 2005, e Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia, de 2010, esteve presente na 15° Jornada Nacional de Literatura e conversou com a equipe da Nexjornada. Confere aí:

Diana Corso trabalha com crianças e adolescentes e veio até a 15° Jornada Nacional de Literatura para debater o tema: Corpo, sexualidade e afeto
Primeiramente, você como psicóloga, decidiu analisar Contos de Fadas. Por que essa escolha?
Porque existem duas coisas que são eternas e tomara que continuem sendo: os contos de fadas e os livros. Os contos de fadas são muito especiais, porque eles foram se transformando ao longo dos tempos, então eles têm um fator de permanência, a criança conhece, a vovó e a bisavó também conhecem. E o fator de mutação, porque eles foram se transformando para dar conta de outras épocas e nessas transformações podemos descobrir coisas sobre o nosso tempo, já que eles se transformam para responder a cada época.
Em um trecho do seu livro “A Psicanálise na Terra do Nunca” você fez um breve discurso sobre o aborto. Você, como mãe e mulher, o que acha dessa polêmica questão?
Penso em duas coisas. A primeira é a defesa incondicional do direito do aborto. Gestações acontecem de forma absolutamente indesejada e isso destrói a vida, não só da mulher, mas também de uma criança que vai nascer sem um lugar digno no mundo, é o prenúncio de uma catástrofe. E a segunda, porque é direito da mulher. Agora, por outro lado, o fato de que eu defenda não quer dizer que a gente deve ignorar o caráter traumático do aborto. É uma experiência dolorosa, é uma experiência que vai fazer aniversário para o resto da vida. Pior teria sido se não pudesse ter sido feito, mas uma vez feito, deixará suas marcas.
Hoje nós temos contos de fadas que não são tão de fadas como, por exemplo, o Shrek. Você acha que eles seriam um espelho da realidade, dessa mudança que diz que nem tudo que é bonito pode ser perfeito?
Nós escrevemos um capítulo para provar que Shrek é um conto de fadas. Nesse ponto, discordamos de Bruno Bettelheim que escreveu o livro “A psicanálise dos contos de fadas”. Ele diz que os contos de fadas eram apenas os escritos pelos irmãos Grimm, dentro daquele cânone. Acreditamos que os contos de fadas se transformam para continuar existindo e Shrek é uma dessas transformações.
Você é mãe de duas meninas. Quando contava histórias para elas, como eram suas abordagens? Elas escutaram os contos tradicionais?
Pessoas da geração de vocês, que hoje são jovens adultos e a primeira geração purinha internet, se relacionam com a tradição de uma forma interativa, então não existe aquela coisa da escuta passiva. Para as gerações multimídia, é preciso intervir em tudo e isso é uma linda herança da revolução de costumes da década de 60 e veio para ficar.
Em seus livros você retrata, de certa forma, a diferença entre os sexos. Diante de todas as questões abordadas em suas obras, como é trabalhar com o seu marido?
A gente briga bastante (risos), é horrível trabalhar comigo, mas ele tem muita paciência e a gente sempre se entende.
E pra finalizar: Como seria um conto de fadas escrito por você?
Se eu tivesse competência, escreveria “Valente”. Retrataria como nunca a jovem mulher, o tornar-se mulher hoje, tendo que se fazer mais mulher. Daria uma trabalheira.
More from 15ª Jornada Nacional de Literatura
A Jornada em números
Confira abaixo no infográfico interativo o balanço final da 15ª Jornada e 7ª Jornadinha em números. Os dados foram cedidos …