A terceira noite da Jornada foi dedicada para homenagear verdadeiros cânones da literatura brasileira. De centauro à pedra, da rosa à estrela. Expressões remetidas às obras dos quatro autores homenageados da 16ª Jornada e 8ª Jornadinha Nacional de Literatura. De personagens icônicos relembrados ainda hoje, como Chicó e João Grilo, Macabea e Guedali até os versos livres no “Poema de 7 Faces”.
Uma noite que inicia com as sensações de Clarice Lispector guiadas pelo espetáculo “Não me toque, estou cheia de lágrimas”, envolveu no público que fixado com os olhos na intérprete de Lispector, acompanhavam cada reviravolta dos sentimentos e percepções da autora. Alice Ruiz já avisa de antemão, “não estranhem se eu me emocionar por relembrar de amigos queridos”. Mas a emoção veio por um amigo que estava presente. Um colega de palco, Felipe Pena levantou de sua cadeira e leu o poema “Dia D”, de Alice. Após a emoção tomar conta, os especialistas dos autores homenageados foram chamados ao palco: Ricardo Silvestrin, Bráulio Tavares, Cíntia Moscovich e Nádia Battela Gotlib.
Uma mesa plural composta por pessoas diferentes, vindas de lugares diferentes, mas que em comum abraçam o amor pela literatura daqueles que são do passado, mas que ao mesmo tempo, ultrapassam os limites do tempo com suas escritas.
Quem ouviu Bráulio Tavares nesta noite deve ter se recordado de Suassuna… o sotaque paraíbano do escritor e o expressionismo de seu corpo relembra as aulas espetáculos daquele que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da UPF em uma Jornada de Literatura. Bráulio conheceu Suassuna quando entrou na faculdade e relembrou que “ele falava com ênfase. É inconcebível para mim a imagem de Ariano falando sentado para o público”, na escrita o homenageado era lento e meticuloso, mas na fala “era uma verdadeira cachoeira”, expõe Tavares.
O escritor e músico gaúcho Ricardo Silvestrin veio com a missão de falar sobre o poeta que queria que os outros criassem suas próprias poesias e não reescrevessem as dele. Carlos Drummond de Andrade vem de uma geração de poetas que ajudou a conceber a poesia brasileira, deixou marcas seguidas pelos que vieram depois. “A poesia é o que está para ser criado, vá escrever a sua poesia”, explica Silvestrin sobre as falas de Drummond.
Nádia Battela Gotlib dedica seus estudos a obra e vida de Clarice Lispector. Das histórias de Clarice e sua família, Nádia teve contato com aquilo que foi a ‘menina de seus olhos’, o álbum de família dos Lispector. Falar e interpretar os escritos de Clarice são os desafios da professora.
Uma amiga de infância de Moacyr Scliar, Cíntia Moscovich frequentava o mesmo ambiente religioso judaico em Porto Alegre. E hoje, relembrou de suas histórias juntos e do escritor e médico que tinha por vocação “salvar o outro da morte”, como ela mesmo afirma. “Médico judeu é um saco e ele queria salvar todo mundo”, brinca Cintia. Uma das histórias que lhe marcaram foi a de entrar para a Zero Hora como jornalista acompanhada de Moacyr Scliar. Ao agradecer pelo convite e por poder participar dessa mesa afirmou que “estar aqui me fez ter uma saudade enorme do Moacyr”.
“Centauro, pedra, rosa, estrela: Scliar, Suassuna, Drummond, Clarice” foi uma conferência para emocionar, relembrar e homenagear a memória de grandes escritores brasileiros.
Fotos: NEXJOR | FAC UPF
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