A primeira noite de conferência da 16ª Jornada Nacional de Literatura iniciou com sinais de protestos por parte dos coordenadores de debates, que receberam uma carta dos professores do CPERS de Passo Fundo e região. “Sem professores não há nação, não há futuro, não há país”, exclama Felipe Pena, ao abrir a mesa. Para o poeta Augusto Massi o debate demonstra a “literatura dialogando com outras artes”, e a autora Alice Ruiz afirma que a “literatura é sinônimo de engajamento social.
Composta por Pedro Gabriel, Rafael Coutinho, Roger Mello e Zeca Camargo, autores de diferentes tipos de obras, a mesa debateu “Literatura e imagem: além do limite do real”. Em uma brincadeira deles mesmos, um quadrinista, um apresentador de TV, alguém que desenha em guardanapos e um Nobel de literatura. Falar sobre estereótipos, preconceito, mídia e redes sociais foi o que guiou a noite.
Para Pedro Gabriel, os rascunhos nos guardanapos são uma forma de mostrar a sua personalidade. Nascido N’Djamena, encontrou nos guardanapos uma forma de homenagear a língua de sua mãe, a portuguesa. “Minha paixão é a palavra e o desenho”, afirma. Palavra e desenho não fogem de um tema bem atual: as redes, que para Pedro são, no fim das contas, um caminho para a leitura. “É preciso democratizar a literatura”, diz, acrescentando que nesse ambiente é necessário cuidado.
Rafael Coutinho, filho de Laerte Coutinho, não fugiu ao tema habitual da herança e a pressão sobre ser filho de um artista. “Decidir fazer arte foi mais difícil do que carregar a fama de meu pai”, explica. O engajamento para fazer quadrinhos vem de uma herança de uma geração que por muito tempo ficou sem, e que se renovou e voltou com força para esse tipo de literatura.
“Um homem da comunicação que faz literatura”. Assim Felipe Pena definiu o jornalista Zeca Camargo. Apresentador do programa “É de casa” e escritor do livro “1000 lugares fantásticos no Brasil”, Camargo afirma que “a gente escreve porque gosta, porque precisa – é uma necessidade nossa”. O primeiro contato com a literatura foi através da imagem de um passarinho cheio de dentes, retratado por Millôr Fernandes, uma imagem que nunca saiu de sua cabeça, uma origem também para a veia literária, uma vez que “todos os meus livros são extensões de reportagens que fiz”.
Roger Mello, ganhador do Prêmio Internacional Hans Christian Andersen, considerado o Prêmio Nobel de Literatura Infantil e Juvenil se considera um fascinado por monstros, e o monstro que mais o assusta é aquele que tem cara de gente. O autor acredita que “assuntos mais complexos precisam estar em livros mais simples”. O livro não é apenas um livro, mas a possibilidade de se ouvir e ouvir o outro, um processo que está além das redes sociais.
Ao final, Augusto Massi explica que, em meio à mundo digital, não falta a informação, mas a formação. Alice Ruiz conclui sua fala afirmando que a “mídia hegemônica é opressora na sociedade” e Pena diz que a “tecnologia pode até resolver todos os nossos problemas, mas ela é cocha”, assim como no livro “Ilíada” de Homero.
A programação do Espaço Suassuna durante a 16ª Jornada Nacional de Literatura se estende até o final desta semana. Nas próximas noites os autores vão debater sobre os homenageados dessa edição da festa das letras, sobre o direto das mulheres e os monstros.
Fotos: NEF | FAC UPF
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